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“Nossa Opinião”: Um ano sem Genivaldo


Prezados ouvintes,


Nesta quinta-feira, dia 25 de maio, completou-se um ano do assassinato covarde do Sr. GENIVALDO dos Santos, no Município de Umbaúba, por três agentes da Polícia Rodoviária Federal. GENIVALDO era pobre, preto, e transitava pela BR 101, com uma motocicleta velha. O sentimento que invadiu a mente daqueles agentes de trânsito foi o de que se tratava de um bicho que merecia a pior sorte que a selva poderia lhe oferecer: a morte por gás molotov.


E qual crime cometeu aquele pobre homem? Que ultrapassagem indevida? Que ameaça aos transeuntes? Estava embriagado ao volante, ou transportando drogas, armas, ou em outra atitude suspeita? Não! Absolutamente, não! GENIVALDO morreu de graça, simplesmente porque os agentes da PRF sentiram-se no direito de pôr fim à vida de um pobre, preto, sem qualquer motivo. Só para fazerem imperar o preconceito racial. Nada além disso.


Estamos atravessando um momento difícil, em que as pessoas se sentem superiores, por causa da condição econômica, da cor da pele, da condição social, e de sentem no direito de retirar de circulação os que são diferentes, sobretudo os pobres, como GENIVALDO.


Se ele fosse uma pessoa rica, político, empresário, que frequentasse a alta sociedade, mesmo que fosse flagrado bêbado ao volante, ou traficando armas, drogas, não teria tido aquele espancamento brutal. Mas, porque era pobre, sem nome de destaque, aqueles agentes decidiram pela morte de GENIVALDO.


A família tenta ainda conseguir o reconhecimento da união estável, a fim de que a viúva tenha acesso ao que lhe é de direito. A justiça ainda não julgou os três agentes, porque existem dúvidas sobre o que realmente aconteceu. Muitas vezes, o tribunal está fechado aos pobres, apesar de vivermos num estado democrático de direito. A justiça é célere para quem pode pagar e lenta demais para os necessitados. E isso, desde que o mundo é mundo.


Como GENIVALDO era preto e pobre, muitos sergipanos já se esqueceram daquele triste episódio! As pessoas se lembram dos famosos, dos poderosos fabricados pelo preconceito, pelo desprezo aos pobres. Mas dos pobres, poucos se lembram e se sensibilizam com as injustiças que recaem sobre eles.


Se, ao invés daquele triste ocorrido, o criminoso fosse GENIVALDO, que tivesse matado um agente da PRF, a justiça já teria agido de forma brutal e já o teria condenado. Ele, sem bons defensores, passaria o resto da vida num presídio, até o último suspiro. Mas, foram agentes da lei que o executaram covardemente, sem qualquer justificativa!


Acostumados à impunidade para as autoridades e os ricos, nós sorrimos quando alguém é chamado de macaco, nos estádios, quando alguém é morto assim; quando falta oxigênio para os pobres, quando os hospitais estão superlotados, quando a criança pobre morre de bala perdida; quando os casebres são inundados a cada chuva mais forte; quando falta pão, escola e orientação, porque os olhos estão virados para a indústria bélica, para as milícias, para o desejo insano de se fazer justiça com as próprias mãos. Como mudar essa realidade?


Em primeiro, acolhendo a todos, de forma indistinta, sem ódio, sem valorização da força brutal, sem incentivo ao preconceito. Punindo os agressores veteranos, acostumados à impunidade; educando a população, servindo-se dos meios de comunicação que, enquanto concessão pública, deveriam exibir menos violência e maior compromisso com a ética, com o bem comum, com o valor da vida.


É preciso entender que somos iguais, embora pensemos de forma diferente; que somos desafiados à mútua acolhida e ao mútuo respeito. Não dá para dizer quem deve e quem não deve viver. É preciso exigir a devida punição aos assassinos de GENIVALDO, sem vingança, sem revides.


Basta de atrocidades bárbaras, de crimes hediondos, de preconceitos de qualquer espécie.

Que o sangue inocente de GENIVALDO DOS SANTOS, atropelado pelos 3 agentes da PRF, seja sementeira de um novo tempo de paz e de congraçamento entre todos, porque ninguém é melhor do que ninguém. Todos nós somos humanos e precisamos de tratamento digno e respeitoso.



Essa é a nossa opinião.



(Veiculado no Programa “Cultura Notícias” do dia 26 de maio de 2023)

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