
PREZADOS OUVINTES,
Vinte e um de abril, feriado nacional em homenagem a Tiradentes, e aos ideais da Inconfidência Mineira, é um marco histórico que precisa ser bem compreendido, para não se cometerem injustiças. As ideias que inspiraram o Movimento de independência em relação à Coroa Portuguesa foram extraídas do iluminismo que acabara de engendrar, na França, a Famosa Revolução Francesa, cujo lema foi: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Em primeiro, não se tratou de uma busca de liberdade para todos, embora se apregoava o fim da escravidão, pois a liberdade exigia o mercado livre para vender seus produtos. Como escravos não têm poder de compras, não seria interessante continuar com a escravidão, pois era preciso arrumar consumidores com poder de compras para a expansão do mercado de produtos industrializados importados da Europa, sobretudo da Inglaterra, Alemanha e França.
Em nosso país, intelectuais formados na Europa tiveram contato com esses ideais e os trouxeram para a Terra de Santa Cruz, fazendo frente aos ditames da Coroa Portuguesa que, em terras mineiras, explorava a título de impostos altíssimos, a atividade mineradora, sobretudo a extração de ouro. Daí a expressão o ‘quinto dos infernos, que valeu o apelido á taxação de 20% sobre a arroba de ouro. Era a chamada derrama, uma espécie de cobrança atrasada dos quintos, repartida entre os mineradores, o que causou a revolta desses donos da extração mineral.
Assomadas às ideias do Iluminismo, as expressões de revolta geraram o que ficou conhecido como a inconfidência mineira, cujo ideal maior era libertar a burguesia da exploração da coroa portuguesa. Não se trata, na verdade, de uma independência de toda a gente. Mas apenas da burguesia, que deveria assumir o comando do novo país.
De qualquer sorte, o contexto da época guarda grandes semelhanças com o que ocorre hoje em nosso país, quando uma enorme carga tributária recai sobre o povo pobre, sobretudo no que atine à energia, combustíveis, remédios e os produtos de primeira necessidade. É vergonhoso pagar tantos tributos e não se visualizar uma recompensa que justifique a manutenção do estado, como ente arrecadador.
Uma amostra foi o caos que se instalou nos primeiros momentos da pandemia, e na segunda leva, primeiro semestre do ano passado, quando víamos pessoas morrerem por falta de vacina, de oxigênio, de leitos de UTI. Um governo arbitrário, negacionista e alheio aos reais desejos da população, fazia comercial contrário ao uso de máscaras e provocava aglomerações. É como se estivesse dizendo que melhor que o povo morra do que ficar dando prejuízo aos cofres públicos.
No último domingo, o ministro da Saúde decretou o fim do sistema emergencial para a COVID, justificando que o pior já passou. Com essa medida, haverá flexibilização em todos os aspectos de enfrentamento da COVID, sobretudo com a liberação indiscriminada do uso de máscaras. Enquanto isso, vê-se, na Europa, uma nova ameaça sob a forma de mutação do vírus letal. Os estados passarão a se desincumbir da tarefa de cuidar das pessoas... certamente, os impostos continuarão a imperar, fazendo outros estragos na população. Será que não seria o momento de rediscutir a carga tributária, os cuidados com a pandemia, sobretudo no atendimento aos mais carentes?
O ideal de liberdade não pode ter sido apenas um marco histórico para nos brindar com um feriado a mais. É preciso reacender a chama da liberdade, não de uma classe ou segmento social, mas de todos os brasileiros. Chega de governo que só pensa nos impostos. Viva a liberdade, com os devidos cuidados, o que significa cuidar da vida, e não enxugar a máquina para sobrar para as campanhas políticas.
Hoje, o quinto dos infernos seria: a falta de leitos; a falta de atenção básica à saúde e à educação; as favelas, os cortiços, o desemprego, a informalidade. A derrama seria a incompetência desmedida de quem assume os cargos públicos pensando apenas em seu umbigo.
Essa é a nossa opinião.
*Veiculado em 22/04/2022
Portal C8 Notícias
Foto: Agência Brasil