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“Nossa Opinião”: A Educação pede passagem


Prezados ouvintes,


É histórica, no Brasil, a crise na educação. Aliás, desde que a família real aqui chegou, a educação se implantou sob o olhar de dominação sobre os mais fracos e excluídos. O saber se tornou sinônimo de poder, de dominação. A educação, neste imenso país esteve como escrava dos poderosos para aliciar e dominar os desfavorecidos.


Com a ideia prevalecente de que saber é poder, como sinônimo de dominação, de imposição sobre os mais fracos, é nítida a diferença entre a escola – produto de mercado – para os ricos e a escola alquebrada, mantida a altos custos pelo estado, para as classes menos favorecidas. Cuidam-se dos traços formativos de quem pretende manter um lugar de mando ou de comando, e dos traços de quem deve permanecer sob a chibata da opressão, com baixos salários e poucas chances de mudança de vida. Basta que se dê uma espiadinha em que tipo de escola estudam os filhos dos nossos políticos de plantão, ou os filhos dos grandes magnatas das empresas, do agronegócio ou da indústria: todos em escolas particulares famosas, com opções de pelo menos inglês e espanhol, intercâmbios e outras possibilidades.


Já, na escola pública, profissionais enfrentam batalhas sangrentas, tentando produzir e replicar conhecimentos, mas muitos alunos não se interessam, por assumirem uma condição de submissão e de desprezo pelo saber. Alguns consideram-se criados para o nada da vida, para as piores vagas de trabalho e basta que tenham o ensino básico. Outros alunos, nascidos e criados sob o caos social, semeiam a barbárie no ambiente escolar, ameaçando professores e demais profissionais da área que se tornam seus subalternos.


Onde campeia a ignorância, a violência surge como alternativa, de sorte que sobre o professor recai dupla canga: a dos baixos salários e a das péssimas e desumanas condições de trabalho, porque obrigados a lidar como se estivessem no fronte de guerra, em que alunos são tidos como estrategistas de ataques cada vez mais nocivos e mortais. O que se vê em escolas, nos Estados Unidos, copia-se, com as devidas proporções, e nosso país acaba sendo território minado para os professores.


Quando o noticiário anunciou a morte de uma senhora de 71 anos, por ser professora e por estar ainda atuando, apesar da idade, o Brasil percebeu o quanto ainda é preciso fazer pela formação de seus filhos e filhas. A morte de um professor é muito mais do que a morte de uma pessoa. E, no caso específico, a Professora Elizabete Tenreiro, trata-se de interromper uma fonte de saber, uma serva devotada à aprendizagem de tantos cidadãos e cidadãs que mudaram suas vidas, porque aprenderam dela. Era uma professora vocacionada, posto que após se aposentar, continuou lecionando, como uma missão de salvar vidas, retirando-as do caos e da obscuridade da ignorância, apontando, como uma seta, os caminhos da emancipação e da verdadeira independência.


Se olharmos para os palácios dos três Poderes, nas três instâncias, vemos um aparato de segurança para proteger as autoridades. E deve ser assim mesmo! Mas, em escolas e hospitais, a segurança praticamente inexiste, porque professor, sobretudo aquele que não reproduz o sistema, mas leva a pensar, tem de ser desprezado como um bicho, um animal grotesco e indesejado.


A vida de Elizabete Tenreiro não pode ficar esquecida. Tampouco, a sua morte! Está na hora de os professores deste país, em todos os estados, fazerem valer a sua profissão, e, num ato público de qualidade visual, mostrarem aos senadores, deputados federais, estaduais, distritais e aos vereadores de todos os municípios que as condições de trabalho e os salários de professor têm de se equiparar aos desses cargos, com uma diferença: o professor trabalha de verdade e faz a diferença.



Essa é a nossa opinião



(Veiculado no Programa “Cultura Noticias” do dia 31 de março de 2023)



Foto: Agência Brasil

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